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PROCESSO DE CRIAÇÃO

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O espetáculo Naquele Bairro Encantado surgiu a partir de uma proposta de montagem baseada nas lendas urbanas de Belo Horizonte iniciada a partir de uma parceria entre o Grupo Trapizomba – grupo de origem das atrizes Rafaela Kênia e Larissa Albertti, que hoje são integrantes do Grupo teatro público – e o ator, diretor e pesquisador Rogério Lopes.  Idealizado partir de lendas belo-horizontinas como a do Capeta da Vilarinho e da Loira do Bonfim, o espetáculo foi concebido a partir da ideia do diretor Rogério Lopes de trazer aspectos da memória da região da Lagoinha, como a lenda da Loira do Bonfim, para o cotidiano presente do bairro. Inicia-se assim um projeto de residência teatral no bairro que se dá a partir de uma habitação teatral dos atores na região.

Financiado pelo Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, o projeto de residência teatral  foi baseado no aluguel de uma casa na região da Lagoinha, ocupada por personagens de velhos mascarados. Os personagens, como velhos que haviam vivido boa parte de suas vidas no bairro e que tinham resolvido retornar a seu local de origem, saiam diariamente pela região sociabilizando com os moradores e vivenciando os diferenciados espaços do bairro.

Ao fim de 9 meses de habitação teatral e de contato direto com os moradores, a equipe de Naquele Bairro Encantado, trouxe a público o espetáculo, que se divide atualmente em dois episódios. Criado a partir de princípios baseados na inserção do espectador no jogo teatral e no deslocamento da cena para os espaços do cotidiano, o espetáculo procurou experimentar, em seu processo de criação, formas de ressignificar espaços da cidade, como o bairro Lagoinha, de modo a valorizar a memória coletiva da região e seu patrimônio arquitetônico.

Episódio I – Estranhos vizinhos – Os personagens realizam atividades cotidianas, como ir ao sacolão, ler na praça, ir à barbearia, tudo isso com o objetivo de estabelecer relações com os moradores, tematizando aspectos históricos e sociais do bairro ou região onde o espetáculo está sendo apresentado.

Episódio II – Ensaio para uma serenata – Os moradores são convidados a se juntarem com os mascarados para fazerem uma serenata. Munidos de violas, cavaquinhos e instrumentos de percussão, o grupo sai pelas ruas oferecendo canções e poesias nas residências. O repertório musical constitui-se por canções populares brasileiras da década de 50 e 60, estando aberto à integração de repertório musical proposto por moradores ou músicos locais.

Episódio III – Jogo da Velha – Este episódio ocorre no interior da casa em que os mascarados estão habitando. O público poderá ter contato com um universo mais íntimo dos mascarados, bem como, poderá conhecer um pouco de sua história, com o auxílio de fotografias e vídeos que registram a passagem do grupo pelo bairro.

— Sobre o bairro Lagoinha

Naquele Bairro Encantado foi concebido a partir de uma residência teatral realizada no região do bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. Localizado nos primórdios da história da cidade nos arredores da Avenida do Contorno, região que delimitava o traçado urbano da cidade, o bairro Lagoinha era então considerado como uma região suburbana.

No início do século XIX, era habitado por imigrantes espanhóis, italianos, portugueses e turcos, além de operários que trabalhavam no centro da cidade. Como área suburbana, o bairro abrigava também a prostituição e a boemia da cidade, além de ser reduto de rádios que surgiram no período, como a Rádio Itatiaia, e de grande parte da produção musical da cidade da metade do século passado.

Como reduto da boemia, a Lagoinha reunia dançarinos, seresteiros, sambistas e os amantes da noite da cidade. Há menos de um quilômetro do centro, o bairro contava também com diferentes estabelecimentos comerciais, botequins sempre cheios, pensões, farmácias, armazéns e cinemas. Famoso também pelos blocos de carnaval criados na época, a região viu surgir blocos, como Os Leões da Lagoinha.

No entanto, a paisagem do bairro foi completamente modificada pela construção de viadutos que entrecortam a Avenida Antônio Carlos, principal ponto de acesso do centro de BH para a região Norte. Com os inúmeros processos de urbanização, parte da história, da tradição e do complexo arquitetônico da região foi apagada, e o bairro hoje sofre com o descaso por parte do poder público em relação ao seu patrimônio e à valorização de sua memória.

Grande parte das casas tombadas pelo patrimônio que constituem o bairro hoje encontram-se abandonadas e em processo crescente de deterioração. A região é também reduto da “cracolândia” da cidade, que ali se instalou. A Lagoinha é vista hoje como local de passagem para quem vai do centro à região da Pampulha, tendo sua tradição, beleza e memória negligenciadas pela administração municipal.

— Material de divulgação